Musicaria


Leo Cavalcanti – Religar
27/05/2011, 9:37
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Eis que surge um belo aceno para a nova música brasileira, Leo Cavalcanti surpreende e muito. Traz conceito, naturalidade, sofisticação, poesia, pluralidade e modernidade. “Religar” é a prova real da qualidade da nova MPB (se assim for possível rotulá-lo), ao mesmo tempo que abraça dezenas de ritmos ele se afunila em originalidade, Leo mostra que tem e carrega as levadas dos últimos grandes nomes da MPB como Djavan, Gilberto Gil, Lenine e etc. E prova que sintetizadores, samples e a vasta tecnologia, podem ser sim grandes ferramentas que agregam e ainda assim permitem a naturalidade do compositor. E pra ligar essa máquina musical, Leo começa com “Ouvidos ao mistério”, uma base eletrônica forte, um baixo que marca com primor e um vasto devaneio instrumental e poético que caminha no vocal simples, mas preciso de Leo. No estalar dos dedos surge “Inalcançável você”, uma levada bem reta, mas que traz um belo balanço romântico. “Dentro” solta as rédeas para um balanço forte, num batuque imponente junto da base eletrônica e um violão que passeia as vezes por algo semelhante ao flamenco, sem contar os belos arranjos dos instrumentos de sopro. “Frenesi de otário” segue a mesma onda, mas com um refrão bem viciante e um coral backing vocal magnífico. Em um diálogo cinematográfico “Dissabor” é aberto, e quando abre, aí sim, o batuque ferve, uma guitarra ‘paranóica’ voa sobre a música criando um ambiente moderno, porém natural com o contraste dos tambores e um vocal meio compresso, em um tom tecnológico e com linhas rápidas e ascendente. Na companhia de ninguém mais ninguém menos que Tulipa Ruiz , Leo apresenta “Sem (Des)esperar”, com uma bela letra e uma levada bem atípica, que paira em um reggae para bailar. A pequenina  “Cantos Novos” abre alas para a chegada da “Religar”, título do álbum e dona de uma belíssima melodia que se inicia com um violão com toques que pousam sobre um flamenco com uma levada meio indiana, “Religar” acontece em uma harmonia crescente, com um show a parte nos instrumentos de cordas. “Acaso” surge para tranquilizar os nervos, já “A tal da paciência” traz um leve suingue nas suas bases eletrônicas e no violão ousado. “Soldado” viaja em uma onda mais ‘noise’, mas sem perder a levada do violão que contracena com guitarras distorcidas crescentes ao fundo. “Vou ser você” começa em uma pegada quase bossa nas cordas e vai se traduzindo em um leve suingue que até parece pender em uma espécie de sambalanço no refrão, linda melodia. Em uma mistura que se assemelha com um pouco de música do leste europeu e música espanhola, Leo apresenta juntamente a Tatá Aeroplano a música “Chuvarada”, canção bem reta que se desfaz em algumas pequenas ‘quebradas’ no refrão. Se religando naquela onda de bases eletrônicas e batuques, “Medo de olhar pra si” é o som que desliga o motor do disco “Religar”, e fecha um excelente trabalho de um jovem músico talentoso.

Com produção de Décio 7 e Cris Scabello, o disco não deixa nada à desejar, a não ser a vontade de apreciar um show ao vivo. Em relação ao disco em geral, Leo acerta em cheio com composições criativas e originais, entra em um jovem grupo de músicos brasileiros que remodelam a música constantemente, mas não se desligam das origens. Enfim, fica a dica de uma grata surpresa musical contemporânea, agora é ouvir e apreciar.

01. Ouvidos Ao Mistério
02. Inalcançável Você
03. Dentro
04. Frenesi de Otário
05. Dissabor
06. Me Des(esperar) – Feat. Tulipa Ruiz
07. Vinheta – Cantos Novos
08. Religar
09. Acaso
10. A Tal da Paciência
11. Soldado
12. Vou Ser Você
13. Chuvarada – Feat. Tatá Aeroplano
14. Medo de Olhar Pra Sí

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